"Somente uma pequena prova de amor" trata, é claro, de amor. Durante os ensaios, eu parecia convencido de que esse tal amor" era de mim para mim mesmo. Como se ao fazer a peça eu estivesse provando algo para mim mesmo - o amor que sinto por mim e ao qual tão dificilmente consigo dar vazão. Trato-me mal, trato mal quem me ama, mal como, mal me exercito, exijo-me
mais do que o necessário, pareço um animal que vive de levar a si mesmo à exaustão.
mais do que o necessário, pareço um animal que vive de levar a si mesmo à exaustão.
Agora há pouco, porém, ao tomar um banho e me aprontar para a estréia (dois espetáculos, seguidos, para realizar a gravação disso que se tornou meu primeiro plano-piloto), reparei, pensando nos últimos meses, e especialmente em ontem, ao discutir com a Cris sem necessidade e - novamente - levá-la ao choro, que eu posso realmente jogar tudo por terra se insistir em me resguardar e não sentir amor pelo público - pessoas de carne e osso, pessoas que eu admiro muitas vezes e que me surpreendem quase sempre - durante a exposição (que é como eu chamo o espetáculo). Pois é isso mesmo. Se há alguma coisa que eu aprendi estes últimos meses é que só mantemos o que temos por amor e só conseguimos algo mais para nossa vida se o fizermos por amor. O resto vai-se embora, realmente, e muitos de nós não reparam o suficiente nisso.
Isto aqui não é, claro, uma lavagem de roupa suja. O que foi, foi; o que vem, vem. Nada que tenha acontecido pode voltar. Nada que vier a acontecer acontecerá diferentemente de como o conduzirmos. As coisas assim são. Eu tenho jogado tudo a perder anos a fio, por medo; e agora estou novamente face a situação de saber conduzir-me sem jogar tudo por terra. Agora percebo que a frieza necessária a que tanto me refiro nos ensaios é simplesmente a cabeça fria de quem sabe que a vida não é necessariamente cruel, mas que consiste em aceitarmos que tudo é apenas resultado de nossos atos, de sabermos amar ou morrer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário