segunda-feira, 26 de maio de 2008

Impressões

Nunca me recuperarei por completo do sábado passado, a tal ponto me marcaram diversos fenômenos ocorridos durante a peça "Somente uma pequena mostra de amor". Alguns desses fenômenos foram desejados por mim; outros, simplesmente aconteceram e afetaram-me fortemente; outros simplesmente me surpreenderam, positiva e negativamente. Foi como deparar-se diante de um corpo morto. A gente não busca isso. A gente simplesmente cai numa situação dessas.

A foto acima é do Weegee. Foi a única que encontrei na internet com os olhos mortos. Tenho um livro - Weegee's world - que mostra várias mais do tipo.

A peça teve quatro partes. Na primeira, o Brunno apresentou-se. Na segunda, eu saí das sombras, li o texto "Fugindo", encarei a platéia bem no nível dela (cara a cara, próximo a muitos deles), e fui até o fundo da platéia, sumindo do campo visual e auditivo deles. A terceira foi a fala do Rycardo, ao fundo do palco. A quarta foi o Brunno e o Rycardo, virando os corpos.
A cena que provavelmente mais me marcou ocorreu quando eu encarava os presentes sentado na divisão entre palco e platéia.
Lembro-me bem. Os espectadores estavam todos me olhando. Com os olhos dos garotos da foto acima. Lembro-me bem. Eu continuava dizendo o texto, sem muita expressão, mas dirigindo-me a eles. Eles apenas me olhavam. Lembro-me bem que a Raíssa Peniche, a atriz, estava bem no centro do lado direito (meu) da primeira fileira. E lembro-me de haver tentado enxergar seus olhos, ver alguma expressão. Nada. Isso era como falar a pessoas mortas. Era como se eu mesmo estivesse morto - pois muito provavelmente eu aparecia a eles da mesma forma. Foi realmente chocante. Pois não me senti mal. Senti-me tão bem como na infância. Como se naquele momento eu os pudesse ter COMIGO. Quero repetir isso ad infinitum, isso eu sei. E não sei como irei fazê-lo. Nem sei se isso é teatro. Mas a mim não importa. Quero isso e pronto.

* * *

Agora há pouco, o Rafa diz para eu não subestimá-lo. Eu respondo que não faço isso, mas que simplesmente quero mudar tudo. Sim, pois o mundo como está não agrada meus desígnios. Para eu me sentir bem, só mudando as referências que sou obrigado a aceitar para conseguir viver com os outros. Criando meu mundo, claro.

Escrevo a ele:"a realidade é que não podemos mudar nada. mas eu quero ainda mudar tudo. típico. mas por favor não ache que com vocês eu uso de pretensão. não é isso. eu simplesmente não aceito as coisas como me aparecem. e preciso criar em algum lugar um simulacro daquilo que eu gostaria que existisse - ou que talvez exista mas eu não consigo entender e aproveitar".

Nenhum comentário: